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Curtailment e apagões: os novos limites da transição energética

  • Foto do escritor: Debora Sanches
    Debora Sanches
  • 17 de out.
  • 3 min de leitura

O avanço das fontes renováveis expõe um novo desafio: garantir que a energia limpa gerada possa ser usada com segurança, eficiência e coordenação.


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O Brasil vive um momento paradoxal no setor elétrico. A matriz é cada vez mais limpa, com crescimento expressivo da geração solar e eólica, mas o país ainda enfrenta apagões recorrentes e riscos operacionais crescentes. O contraste entre a capacidade de gerar energia e a limitação para utilizá-la evidencia um problema estrutural que ganha força: o curtailment.


O fenômeno ocorre quando há energia disponível para ser gerada, mas o sistema precisa reduzir a produção para manter o equilíbrio entre oferta e demanda. Em estados do Nordeste, por exemplo, o volume de energia eólica e solar frequentemente ultrapassa a capacidade de escoamento das linhas de transmissão. A geração é cortada, mesmo com sol e vento em abundância, para evitar sobrecarga. Ao mesmo tempo, termelétricas são acionadas em outras regiões para sustentar a estabilidade do sistema. A combinação é ineficiente, cara e contraditória.


Os blecautes registrados nos últimos meses reforçam o alerta. Em 14 de outubro de 2025, um apagão de grandes proporções atingiu todo o país após um incêndio em uma subestação no Paraná, que provocou o desligamento em cascata de linhas de transmissão. Em agosto de 2023, cerca de 29 milhões de pessoas ficaram sem energia por falhas na interligação Norte-Sudeste, associadas à sobrecarga e ao desequilíbrio momentâneo entre geração e consumo. Já em março de 2024, interrupções regionais foram registradas em estados do Nordeste devido à manutenção emergencial de linhas e ao alto volume de geração eólica. Apesar de causas distintas, todos esses eventos têm um ponto em comum: a vulnerabilidade estrutural do sistema elétrico diante da falta de flexibilidade, da dependência de térmicas em momentos críticos e da ausência de mecanismos eficazes de resposta da demanda.


O curtailment, embora técnico, traduz um problema de gestão e planejamento. Ele reflete um sistema que expandiu a geração renovável em ritmo mais rápido do que sua capacidade de integração e coordenação. A energia limpa que o país produz com abundância nem sempre encontra espaço para ser utilizada no momento certo, o que evidencia a urgência de novas ferramentas para sincronizar oferta e consumo. Nesse contexto, as Virtual Power Plants (VPPs) surgem como uma resposta natural.


As VPPs permitem agregar diferentes fontes e cargas distribuídas em uma estrutura digital que opera de forma coordenada. Essa integração transforma unidades consumidoras e pequenos geradores em agentes ativos do sistema, capazes de oferecer flexibilidade quando a rede precisa. Ao ajustar consumo, armazenamento e geração de forma inteligente, as VPPs reduzem o impacto do curtailment e evitam a perda de energia renovável que hoje é desperdiçada.


O desenvolvimento de plataformas digitais voltadas à gestão dessa flexibilidade representa uma das maiores oportunidades de modernização do setor elétrico brasileiro. Soluções que integrem dados de medição, previsão e contratos em tempo real permitem que a flexibilidade se torne um ativo operacional, não apenas um conceito. A combinação de tecnologia, regulação e coordenação entre agentes pode transformar o que hoje é um problema estrutural em um novo modelo de eficiência.


A abertura e a modernização do mercado livre de energia têm papel fundamental nesse avanço. Elas abrem espaço para soluções mais flexíveis, incentivam inovação e criam condições para que os agentes se tornem protagonistas da transição energética. A digitalização deixa de ser um acessório e passa a ser um elemento de resiliência. O curtailment não deve ser visto como uma anomalia, mas como um sinal de transição. Ele indica que o sistema chegou a um ponto de maturidade em que os limites deixaram de ser físicos e se tornaram operacionais.


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1 comentário


Adriano Pires
há 7 dias

Realmente é muito complicado para grandes empreendimentos ficar expostos a esse tipo de situação, mas vale lembrar que isso não é exclusividade do Brasil e que diversos países do mundo estão passando pelos mesmos desafios.


Realmente nos cabe buscar soluções de flexibilidade e até modelos de negócio inteligentes para tentar superar esses desafios e continuar impulsionando a descarbonização através de renováveis sem perder a previsibilidade e resiliência.

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